A preciosidade do tempo

A velocidade do Tempo.

Nosso desejo atual é tempo. Tempo para curtir a família, os amigos, se dedicar mais a causas nobres, descansar, pegar férias, viajar, praticar esportes, assistir mais filmes e por aí vai. Somos carentes de “tempo”. Ouvimos constantemente as pessoas dizerem: “Logo já é natal de novo, nem vi o ano passar!”.

Mas será que realmente o tempo está passando mais rápido? 
Não. O tempo continua igual. Uma hora continua tendo os mesmos 60 minutos de antigamente. Então o que está acontecendo?

O que acontece é que atualmente temos uma grande quantidade de informação. Fazemos as mesmas coisas quase todos os dias. Acordamos no mesmo horário, pegamos o mesmo caminho para ir ao trabalho, encontramos as mesmas pessoas. A repetição faz o tempo escapar de nossas mãos. Quanto mais repetida for a rotina, mais irá parecer que o tempo está passando rápido demais.

Experimente fazer atividades diferenciadas. Assuma a cozinha uma noite e faça uma receita nova. Ou prepare um café da manhã especial. Vá ao trabalho a pé, de ônibus ou bicicleta. Leve seus sobrinhos ou afilhados ao circo ou ao cinema. Seja criativo e invente coisas que ajudem a quebrar a rotina.

Outra forma de conseguir parar um pouco o tempo é criar a habilidade de se conectar ao presente, sem fazer uma tarefa com o pensamento em outro lugar. Se estamos “presentes” conseguimos vivenciar melhor cada experiência do nosso dia. Quando estiver caminhando, repare no céu, repare as árvores, olhe ao seu redor. 



Esse texto é do livro “ A Montanha Mágica” de Thomas Mann, escrito em 1924! Naquela época, o tempo também não dava tréguas.  Explica claramente para onde o tempo está correndo:

“Crê-se em geral que a novidade e o caráter interessante do conteúdo “fazem passar” o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e a vacuidade lhe estorvam e retardam o fluxo. Isto não é verdade, senão com certas restrições. Pode ser que a vacuidade e a monotonia alarguem e tornem “tediosos” o momento e a hora; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, por outro lado, capaz de abreviar a hora e até mesmo o dia; mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e se vão voando. O que se chama tédio é, portanto, na realidade, antes uma brevidade mórbida do tempo, provocada pela monotonia: em casos de igualdade contínua, os grandes lapsos de tempo chegam a encolher-se a tal ponto, que causam ao coração um susto mortal; quando um dia é como todos, todos são como um só; passada numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos. O hábito representa a modorra, ou ao menos o enfraquecimento, do senso de tempo, e o fato de os anos de infância serem vividos mais vagarosamente, ao passo que a vida posterior se desenrola e foge cada vez mais depressa – esse fato também se baseia no hábito. Sabemos perfeita¬mente que a intercalação de mudanças de hábitos, ou de hábitos novos, constitui o único meio para manter a nossa vida, para refrescar a nossa sensação de tempo, para obter um rejuvenescimento, um reforço, um retardamento da nossa experiência do tempo, e com isso, a renovação da nossa sensação de vida em geral. Tal é a finalidade da mudança de lugar e de clima, da viagem de recreio, e nisso reside o que há de salutar na variação e no episódico. Os primeiros dias num ambiente novo têm um curso juvenil, quer dizer, vigoroso e amplo. Isto se aplica a uns seis ou oito dias. Depois, na medida em que a pessoa se “aclimata”, começa a sentir uma progressiva abreviação: quem se apega à vida, ou melhor, quem gostaria de fazê-lo, talvez note com horror como os dias voltam a tornar-se leves e começam a deslizar voando; e a última semana – de quatro, por exemplo – é de uma rapidez e fugacidade inquietante. Verdade é que a vitalização do nosso senso de tempo produz efeitos além do interlúdio, fazendo-se valer ainda quando a pessoa já voltou à rotina; os primeiros dias que passamos em casa, depois da variação, se nos afiguram também novos, amplos e juvenis; mas esses são somente uns poucos, já que a gente se reacostuma mais rapidamente à rotina do que à sua sus¬pensão. E o senso de tempo de quem já está fatigado, em virtude da idade, ou nunca o possuiu desenvolvido em alto grau – o que é sinal de pouca força vital –, volta a adormecer muito depressa, e já ao cabo de vinte e quatro horas é como se tal pessoa jamais se tivesse afastado do seu ambiente habitual, e a viagem não passasse do sonho de uma noite.”



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